domingo, julho 20, 2008

Nome próprio

by.Queiroz




Eu creio que visões paternalistas sempre estragam bons julgamentos. Ver a geração seguinte por cima é um problema. Eu lembro de que quando passava o Programa Livre, teve um em que foi o Ultraje à Rigor, e o Roger disse a platéia adolescente que essa geração (anos 90), era muito desanimada. Referia-se de certo a uma geração mais preocupada em passar no vestibular, arranjar um bom emprego sabe. Uma geração mais caretinha que a dos anos 80. Tabaco, Lsd, maconha, cocaína, ácido, êxtase e afins, não passaram longe da tal geração. Mas, uma diferença muito grande era que esses não se tratavam mais de meios “obrigatórios” de entrosamento ou forma de estar inserido em algum movimento de contestação. O monstro dessa geração viria num monitor, e a conexão com o mundo seria a ponte de comunicação entre o cidadão mais nerd com uma junkie. Falo disso que está perante os belos olhos de vocês, o monstro do final dos anos 90 e década de 2000 é a internet. Apelidado em português de diário pessoal, parecia onda de menininha, o início dessa onda dos blogs. Derrepente aquelas confissões que só estariam expressas naquele caderninho com cadeado, para ficar em lugar seguro longe de irmão mais velho e pais, deliberadamente estava lá acessível mundialmente. Não digo que as pessoas não tenham se protegido por nicknames, blá, blá, blá. Mas a prática mais comum era ver aquela pessoa que você por vezes conhecia abrindo lá o coração para everyone. Foi aí que nós garotos começamos a achar que a parada não era tão restrita assim, e ao invés de falar que pegou a irmã do outro, corneou a namorada ou coisa assim, foram surgindo os blogs de humor, cinema, nerds por assim dizer e claro os maravilhosos blogs de sacanagem (he,he,he). Eu nessa estória toda passei os anos 90, completamente desentrosado com essa garota aqui, mas quando chegou 2003, eu criei o meu primeiro blog também para postar meus raps que escrevia desde a adolescência como também letras de rappers profissionais. A página era tosca sabe, não tinha esquema de comentários, e eu ia transitando nos blogs que possuíam. Passou o tempo e criei o Escritos Malditos, cujo o nome surgiu, olha só, caminhando pela praia imaginando escrever um novo blog sobre estórias de terror. Criei o blog, e é exatamente este que está perante seus olhos, no ano de 2005. Os primeiros posts e comentários foram apagados por tilts e outras merdinhas que rolaram com a página, mas creia que desde 13/3/2005, escrevo nessa página 3 anos seguidos sem parar. Tive uma idéia boa na época que era catar no google, blogs de outros estados do Brasil para fazer uma ponte de comunicação. E me orgulho de dizer que a mais bem sucedida, foi ter descoberto assim de bobeira o Mineiras, uaí, que é a página da Aninha, amigona, mineirinha, gata, sangue bom, que sempre troca uma idéia comigo. O novo blog, herdou a idéia de transcrever meus raps da adolescência, e escrever novos. Era uma página de protesto, relatos de boemias e divulgação de shows que fui, e por aí vai. Não mudou tanto sabe, mas depois de eleger o Pécidenti, cumpanheiro, e ver que não tinha mudado pourra nenhuma, passei a deixar a vertente do protesto um tanto de lado, e passei a valorizar mais os relatos de boemia, chegando a esse ponto que estou agora de praticamente um blog de cinema. Não é, sabe, tem muita gente que escreve muito melhor que eu sobre o assunto. As minhas versões são relatos apaixonados de um fã da 7.ª arte. É o assunto que estou curtindo falar nesse momento, me dá o maior prazer abrir essa página e ler sobre, e não que “Todo poder emana do povo, mas o povo esquece por isso nosso povo tem o governo que ninguém merece”. Para tornar o mundo melhor eu trabalho sabe, rimar cpi com Lula, e falar da gula de político por dinheiro não mudará o Brasil, muito o menos o meu Rio de Janeiro. Não abri mão dos meus sonhos, mas acho palhaçada abrir o berreiro. Desculpa, esse foi momento batatada, poim!! Como diria a galera do Ronca Ronca, rsrs. Mas, voltando, então é isso senhoras e senhores, falo de cinema, e ontem assisti numa das 2 únicas salas do Rio que estão exibindo, esse filme, Nome Próprio, que conta as postagens, ressacas, bebedeiras, relações sexuais de Camila Lopes, inspirada (dizem), nos livros de Clarah Averbuck, uma veterana do mundo dos blogs. No filme vemos uma garota que acabou de levar um pé do namorado, após dar uma puladinha de cerca, e ainda apaixonada pelo corno fica ansiando por uma resposta noites afim a base de cerva e estimulante, através do e-mail exposto em seu blog. O blog dela sem comments, pq como a garota muito bem diz Camila Jam, NÃO É UM DIÁRIO, é o que ela pensa, então quem não gosta, pare de ler. E vemos por assim dizer a garota mergulhar de cabeça em todos os malditos estágios da depressão: Insônia, obsessão, mania de limpeza, falta de fome, etc. Tudo é exposto no filme no belo invólucro de Leandra Leal, no melhor papel de sua vida. Tem uma cena em que ela cai da escada, que cacete, aquilo foi de verdade não é possível. Fora essa tem cenas antológicas, sabe, desculpe os spoilers, mas lá vai, pô, a cena em que ela trepa com o namorado da amiga na praia, é uma das coisas mais hardcores que já vi no cinema. Puts grilo, sem falar no momento em que ela se muda para a casa de um leitor nerd que aproveita que ela está briaca para tirar umas fotos dela e jogar no monitor, só para bater uma. Cacete, vc pensa, mas que infeliz é esse cara ao invés de mamar peitinho, ou bater olhando para ela o cara, tira uma foto, e manda para o pc. Ridícula e hilária demais a cena, a Camila deitada peladinha e o cara olhando para o monitor batendo olhando para fotos com closes da perseguida da menina. Outra interessante é a do momento de rejeição de um cara no bar. Ela rejeita o cara, mas depois quando o vê feliz conversando com duas garotas bonitas com altas risadas, vem ela puxar assunto denovo, terminando com uma F*da mau dada. “Mas, o filme se limita a isso?!”. Nããããão!! Tudo de hardcore que é demonstrado no filme é dentro de um contesto, num quase reality show, no extremo bom sentido da palavra. Se Juno é um retrato carinhoso, e como diria o Judão: assaz, da nova geração, Nome Próprio, é um retrato dos caminhos as vezes sem volta, de uma geração que não faz questão de esconder nada.


Maurício Saldanha entrevistando Clarah Averbuck