Ensaio sobre a cegueira
by.Queiroz
Texto não recomendado para quem ainda não assistiu ao filme:
Eu não li o livro, e fui de forma crua ao cinema, isento de spoilers e pronto para as surpresas que eu teria com o filme. O filme se inicia com o primeiro cego (Yusuke Isseya) já apresentando os sintomas da cegueira branca, parando o trânsito com o seu carro, e sendo ajudado por um rapaz (Don McKellar), que logo de cara, você percebe que está mal intencionado. Quando sua esposa (Yoshino Kimura) chega em casa e sabe a respeito de seu estado uma das soluções que busca é de ligar e apagar a luz. Vou guardar forças para o final do texto para falar mal da maneira que o filme nós faz saber qual a sensação da cegueira branca, cujo sintoma é como se você estivesse antes no escuro e acabado de entrar numa sala com uma luz branca e forte. Pois, bem, o primeiro cego vai ao médico (Mark Ruffalo) que se diz espantado com os sintomas não crendo que o paciente esteja realmente falando sério. Chega em casa e discute os sintomas da doença com sua mulher (Julianne Moore), que é a protagonista do filme. Então, como cegos nós vamos sendo conduzidos pelo filme até achar a protagonista, a única que não sofrerá os sintomas da cegueira branca, e quando começa o isolamento de quem sofreu os sintomas da cegueira, a protagonista resolve se fingir de cega para não se separar de seu marido. E eis que somos apresentados a uma nova sociedade de cegos tendo que na marra se adaptar aquela situação. Todos acabam reduzidos a condição de mendigos naquele confinamento, e a protagonista(Julianne Moore) usando assim de seu “dom” tenta sozinha contornar aquela situação, tornando aquela atmosfera se possível menos intolerável. O médico(Mark Ruffalo), tenta assumir a posição de líder, mas o gesto é tão inútil, pois a única que poderia alcançar a condição de líder ou rainha seria a sua mulher a única que enxerga. “Então a máxima é verdadeira?”. Não, infelizmente, pois logo a força toma o lugar do bom senso e aí que cresce a influência do Rei da Camarata 3 (Gael García Bernal), que portando um revolver resolve ditar as regras em relação a alimentação dos outros cegos, pedindo os seus objetos de valor. Eu não posso esquecer a piadinha do Steve Wonder a melhor do filme, e a forma como o Rei fica amedrontado quando a protagonista diz que não esquecerá seu rosto. É angustiante o momento em que o Rei se toca que não há mais objetos de valor entre os cegos e resolve sugerir como moeda de troca as mulheres. A maneira como elas se negam de início, e depois aceitam por não ver outra maneira de conseguir alimentos é de partir a p#rra do coração de forma absurda. E mesmo nós sabendo que uma delas é uma prostituta (Alice Braga), isso não importa nem um pouco, lá estavam todas sob as mesmas condições expostas aos mesmos maus tratos. Terrível. E esse pano de fundo de terror, inclusive pelo fato de terem perdido uma amiga, sendo esta morta, que temos respaldo suficiente para que a protagonista venha também a apelar para o recurso da violência e acaba matando o Rei. Um ótimo comparsa do Rei, um Sr. cego de nascença, e extremamente mal caráter, a meu ver poderia ser um personagem mesclado com o de Gael, e ter sido criado para o filme um personagem só. Mas, chegando ao ponto da libertação do confinamento, a relação de amizade que foi construída naquele lugar, e conclusão dúbia, que me agradou bastante. Teria a protagonista ficado cega? Ou a cegueira seria uma metáfora, para dizer que a maneira que ela via o mundo nunca mais seria como antes. A subida da câmera com o branco e a descida com a gente avistando os prédios, torna a questão dúbia, mas prefiro acreditar que a maneira que ela via o mundo nunca mais seria como antes.
Texto não recomendado para quem ainda não assistiu ao filme:
Eu não li o livro, e fui de forma crua ao cinema, isento de spoilers e pronto para as surpresas que eu teria com o filme. O filme se inicia com o primeiro cego (Yusuke Isseya) já apresentando os sintomas da cegueira branca, parando o trânsito com o seu carro, e sendo ajudado por um rapaz (Don McKellar), que logo de cara, você percebe que está mal intencionado. Quando sua esposa (Yoshino Kimura) chega em casa e sabe a respeito de seu estado uma das soluções que busca é de ligar e apagar a luz. Vou guardar forças para o final do texto para falar mal da maneira que o filme nós faz saber qual a sensação da cegueira branca, cujo sintoma é como se você estivesse antes no escuro e acabado de entrar numa sala com uma luz branca e forte. Pois, bem, o primeiro cego vai ao médico (Mark Ruffalo) que se diz espantado com os sintomas não crendo que o paciente esteja realmente falando sério. Chega em casa e discute os sintomas da doença com sua mulher (Julianne Moore), que é a protagonista do filme. Então, como cegos nós vamos sendo conduzidos pelo filme até achar a protagonista, a única que não sofrerá os sintomas da cegueira branca, e quando começa o isolamento de quem sofreu os sintomas da cegueira, a protagonista resolve se fingir de cega para não se separar de seu marido. E eis que somos apresentados a uma nova sociedade de cegos tendo que na marra se adaptar aquela situação. Todos acabam reduzidos a condição de mendigos naquele confinamento, e a protagonista(Julianne Moore) usando assim de seu “dom” tenta sozinha contornar aquela situação, tornando aquela atmosfera se possível menos intolerável. O médico(Mark Ruffalo), tenta assumir a posição de líder, mas o gesto é tão inútil, pois a única que poderia alcançar a condição de líder ou rainha seria a sua mulher a única que enxerga. “Então a máxima é verdadeira?”. Não, infelizmente, pois logo a força toma o lugar do bom senso e aí que cresce a influência do Rei da Camarata 3 (Gael García Bernal), que portando um revolver resolve ditar as regras em relação a alimentação dos outros cegos, pedindo os seus objetos de valor. Eu não posso esquecer a piadinha do Steve Wonder a melhor do filme, e a forma como o Rei fica amedrontado quando a protagonista diz que não esquecerá seu rosto. É angustiante o momento em que o Rei se toca que não há mais objetos de valor entre os cegos e resolve sugerir como moeda de troca as mulheres. A maneira como elas se negam de início, e depois aceitam por não ver outra maneira de conseguir alimentos é de partir a p#rra do coração de forma absurda. E mesmo nós sabendo que uma delas é uma prostituta (Alice Braga), isso não importa nem um pouco, lá estavam todas sob as mesmas condições expostas aos mesmos maus tratos. Terrível. E esse pano de fundo de terror, inclusive pelo fato de terem perdido uma amiga, sendo esta morta, que temos respaldo suficiente para que a protagonista venha também a apelar para o recurso da violência e acaba matando o Rei. Um ótimo comparsa do Rei, um Sr. cego de nascença, e extremamente mal caráter, a meu ver poderia ser um personagem mesclado com o de Gael, e ter sido criado para o filme um personagem só. Mas, chegando ao ponto da libertação do confinamento, a relação de amizade que foi construída naquele lugar, e conclusão dúbia, que me agradou bastante. Teria a protagonista ficado cega? Ou a cegueira seria uma metáfora, para dizer que a maneira que ela via o mundo nunca mais seria como antes. A subida da câmera com o branco e a descida com a gente avistando os prédios, torna a questão dúbia, mas prefiro acreditar que a maneira que ela via o mundo nunca mais seria como antes.
Agora, fica a minha única reclamação séria em relação ao filme. Seu Fernando Meirelles, o que era aquela luz branca a toda hora? É dose, cara. Até que foi muito bem empregada nas horas em que se tratava de ilustrar o ponto de vista de um personagem, mas assistir a cenas com aquela luz branca, extremamente desagradável. Saí da sala com o meu olho direito ardendo. E outra, eu gostaria muito que naquela parte em que a Julianne questiona o pq do padre ter posto vendas nas imagens, a Alice Braga tivesse dito: "Jesus não tem dentes no país dos bangelas". Compensaria em muito uma citação aos Titãs, para compensar a grande furada de não saber quem é Bob Marley em Eu sou a lenda.
Eu escrevi esse texto escutando o cd que eu comprei dos Los Hermanos, ao vivo da Fundição Progresso no dia 09 de junho de 2007. Bato palmas para o público presente naquele dia, um coro maravilhoso. Vozes femininas cantando de cor as músicas. Coisa linda. E quanto a banda... Olha é melhor eu ficar quieto sabe. Mas, mesmo assim vale a pergunta: Porque parou? Parou porque?