terça-feira, outubro 21, 2008

Linha de passe

by.Queiroz


Quebrando o meu jejum de ir à sala de cinema, assisti no dia de ontem Linha de passe, dirigido pelo Sr.Walter Salles. O jogador de futebol de Linha de passe é Dario, filho de Cleusa (Sandra Corveloni), irmão por parte de mãe de Denis (João Baldasserini), Dinho (José Geraldo Rodrigues) e Reginaldo (Kaique Jesus Santos). Cleusa (Sandra Corveloni), é corintiana que freqüenta o estádio, que sofre com o time prestes a ser rebaixado, mãe de cinco filhos, sendo o último em gestação, doméstica, rude, mas boa mãe. Denis (João Baldasserini), é motoboy, paga pensão para a ex-namorada, fanfarrão e paquerador. Dinho (José Geraldo Rodrigues), é braço direito de um pastor evangélico, e como tal freqüentador assíduo dos cultos, e deixa sempre bem clara a sua vocação religiosa a todos, e trabalha em um posto de gasolina. Reginaldo (Kaique Jesus Santos), é o caçula da casa, criança feliz que sabe jogar bola, e dança break como ninguém, pretinho que pergunta para mãe se seu pai era preto que nem carvão, tendo em vista a mãe branca, e que diz que cabelo de preto não tem jeito. E Dario? Quem encarna Dario é o irreconhecível Vinícius de Oliveira, o garoto de Central do Brasil, que contracenou com Fernanda Montenegro, que agora mais velho e de cabelos longos, com o rosto marcado e cheio de acne. Dario é um ótimo jogador, que de começo não tem vontade de tocar a bola para demonstrar tudo que sabe e conseguir logo sua vaga em um time profissional. Já chegando aos 19 anos de idade, já está ficando “velho” para as peneiras, ou seja, a seleção de jogadores para as categorias de base. Sente tristeza no dia de seu aniversário, aliais a festa possuí assim uma das quatro cenas que mais gostei no filme, em que Denis (João Baldasserini) e Reginaldo (Kaique Jesus Santos) fazem uma pequena disputa de break na sala, não ao som de um rap que seria mais tradicional, mas sim de funk (carioca). Mas, voltando ao Dario, este chega a ponto de falsificar o documento de identidade, para ficar na idade certa para não ser barrado na peneira, mas logo é descoberto. Aliais é uma das várias atitudes erradas cometidas durante o filme que nunca tem uma recompensa. Não há nesse filme o velho: “Mas todo mundo faz mesmo!!”, porque sempre há um castigo posterior, mas nunca em um tom moralista. O aspecto do caráter é algo interessante de se analisar no filme. Diferente da abordagem de uma novela, em que ou se é infinitamente bom ou mal, no filme ficam claras as falhas no caráter de cada personagem. Mas, o grande diferencial que vejo na maioria dos personagens, com exceção do Reginaldo (Kaique Jesus Santos), é que eles são pessoas, que talvez você tenha visto igual no seu dia a dia, mas que passam invisíveis no seu cotidiano. Salvo se você for como um deles. Não há também o brilhantismo de diálogos, como ocorre em Central do Brasil. Mas, o cuidado com certas cenas como as de futebol, por exemplo, que o jogam a milhas de distância de algum filme B. Não há frases de efeito, ou recursos fáceis para te cativar, o humor das pessoas é nublado como o tempo na cidade de São Paulo. Bem, Reginaldo (Kaique Jesus Santos), realizou a cena mais bonita no final do filme, mas por não focar com preferência a nenhum personagem, contando diversos arcos simultaneamente, você que escolhe com quem se identificou mais, quando sobem os créditos. E isso é uma forma de realizar um filme honesto.